sábado, 1 de julho de 2017

PORQUE AFETIVIDADE NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS?

PORQUE AFETIVIDADE NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS?

A reflexão que se almeja propor neste texto, remete a uma questão que inquieta quando se pensa em educação de jovens e adultos, ainda mais se pensarmos que a aprendizagem deste grupo de educandos, é mais do que apenas ensinar ou transferir conhecimentos, mas também é uma construção de autonomia e mudança. O que se propõe aqui é conjecturar sobre a afetividade no ensino, sabendo-se que a educação de jovens e adultos passou a ser considerado importante no Brasil, com a finalidade de capacitar os jovens e adultos para o trabalho efetivamente, mas que também, consta no cenário educacional contemporâneo como uma possibilidade e alternativa para aquelas pessoas que por motivos distintos não puderam frequentar a escola regular.
A modalidade de ensino de que falamos, o EJA, consolidou-se a partir dos preceitos da LDB 9394/96, da Resolução CNE/CEB Nº 01/2000 e do parecer CNE/CEB Nº 11/2000, como sendo uma oportunidade educativa, ainda que diferenciada pelas particularidades dos educandos, que geralmente, são pessoas que devido as condições financeiras, dedicaram-se ao trabalho desde cedo, empregados e desempregados, moradores urbanos de periferias, favelas, vilas e zonas rurais. Embora, não pareçam, constituem-se como agentes sociais e culturais, que acabam sendo marginalizados na sociedade, e de certa forma, por não se enquadrarem socioeconomicamente e educacionalmente. São pessoas que depois de uma longa rotina de trabalho, se dirigem à escola desafiando o desânimo, cansaço, sono, e a evasão, para se sobressair à persistência em aprender e avançar nas etapas acadêmicas. Para tanto, o que poderia ser mais eficaz para a aprendizagem destes educandos do que a relação professor/educando, pois acredita-se que em muitos casos, a afetividade atribuída a prática educativa, surte como uma tática proveitosa que os conecta em sala de aula. E contemplando Paulo Freire, que vislumbrava uma educação democrática e libertadora, que partisse da realidade, da vivência dos educandos, cabe ao professor promover estas mediações que envolvam o conhecimento prévio que estas pessoas carregam na bagagem de vida e transformá-los em agentes produtivos de conhecimento e cultura.
Nesse contexto, a educação de jovens e adultos, necessita de professores que envolvam os educandos para a prática das atividades educativas planejadas com entusiasmo, vontade, e os mostrem que são capazes de aprender. Por isso, as discussões e ideias de Paulo Freire, Moacyr Gaddoti, dentre outros autores que abordam o tema sobre a educação de jovens e adultos, são tão relevantes quando se trata da importância da afetividade na relação entre professor/educando, suscitando muitas indagações sobre uma prática pedagógica voltada para jovens e adultos que esteja alicerçada na afetividade e que demonstre resultados efetivos, ou seja, que o professor seja igualmente capaz, de encontrar meios de motivar os educandos para a sua pratica educativa, por meio de diálogos, momentos reflexivos e dinâmicos que visem uma interação mais intimista e um olhar do professor mais voltado para as reais necessidades do educando.
Nas palavras de Paulo Freire, “[...] ninguém é analfabeto porque quer, mas como consequência das condições de onde vive” (FREIRE, 1986). Entretanto, independente das causas que precedem a evasão destes educandos da escola, a modalidade de educação de jovens e adultos, tenta reestabelecer os direitos e a busca pela superação das injustiças sociais, através da reconquista da identidade cultural, elevação da autoestima e, sobretudo, tornando-os sujeitos das próprias aprendizagens. Por isso defende-se e instiga-se que o professor seja, ou atue como mediador, ressaltando algumas das atribuições, tais como: ouvir, entender, incentivar a não desistir dos estudos, orientar, atribuir-lhes valor dentro do processo de aprendizagem, dentre outras. Mas como tudo tem um outro lado, há de se compreender que para se obter o que descrevemos anteriormente, teremos que contar com requisitos e atribuições de um professor que seja aberto para conversar, que transmita confiança e que, especialmente, seja reflexivo e incentive os educandos a se sentirem parte do processo, desenvolvendo, de tal forma, as atividades com alegria, bom humor e segurança.
Numa perspectiva prática, o educando adulto já traz consigo ideais conceituados e inúmeras experiências de vida, diferente da condição de criança, porém, ainda necessita e requer muita atenção e carinho, pois esta relação acolhedora produz um sentimento de pertencimento ao que se propõe, e serve de incentivo para a permanência destes educandos na escola. Conforme Mosquera (1976) revela que, “a união entre a vida emocional e a intelectiva é algo sumamente importante e chamaríamos a atenção de que o ser humano age como um todo. Hoje temos maior consistência desta afirmativa, porque somos conscientes dessa unidade e complexidade, que conformam o ser humano”.
De tal forma que se o professor não objetivar estabelecer uma relação afetiva com os educandos, pode até conseguir transmitir conteúdos/informações, no entanto, será sempre incompleto no quesito: eficácia do ensino, pois este não envolvimento com o educando inviabiliza a concretização da aprendizagem, corroborando para a importância da afetividade como instrumento inerente a prática pedagógica. CODO & GAZZOTTI (1999) nos diz que: “todo trabalho envolve algum investimento afetivo por parte do trabalhador, quer seja na relação estabelecida com outros, quer mesmo na relação estabelecida com o produto do trabalho”. No entanto, em se tratando do papel do professor, a relação afetiva poder-se-ia se dizer que é algo obrigatório para o próprio exercício do trabalho, a fim de atingir os objetivos. Ainda que reconheçamos as funções atribuídas ao professor, que são geralmente de caráter objetivo, tendo prazos para cumprir, estrutura curricular a seguir, tendo que estruturar seu trabalho independente do investimento afetivo, conclui-se que, no momento que se propõe a ensinar e o educando a aprender ocorrerá, de certa forma, algum tipo de estabelecimento de laços afetivos, propiciando então, uma troca entre os dois, que contribua na demonstração de atenção e interesse do educando para o conhecimento proposto. 
Contudo, por mais que pareça idealismo crer na possibilidade de propostas pedagógicas alicerçadas na afetividade, que levem em conta as características e necessidades individuais, interesses e condições de vida e trabalho, faz-se necessário continuar acreditando e buscando formas de adequar a escola e o trabalho do professor às necessidades daqueles que recorrem ao ensino de jovens e adultos para crescerem, evoluírem e se reencontrar como agente ativos de aprendizagem. 


REFERÊNCIAS 


CODO, Wanderley (Coordenador). Educação: carinho e trabalho. Petrópolis, RJ: 3ª Edição. Ed. Vozes. Brasília: Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação: Universidade de Brasília. Laboratório de Psicologia do Trabalho, 1999.
DONADON, Daniela Gobbo; LEITE, Sergio Antonio da Silva. Educação de Jovens e Adultos: as dimensões afetivas na mediação pedagógica. Disponível em: http://www.alb.com.br/anais17/txtcompletos/sem02/COLE_984.pdf. Acesso em 19 ago 2010.

FREIRE, Paulo. 1986. Carta a uma alfabetizadora - Fascículo - Vereda - São Paulo. ___________. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 16. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002 ___________. Política e Educação: ensaios. 5 ed. São Paulo: Cortez, 2001 (Coleção Questões de nossa época; v. 23) GADOTTI, Moacir ; ROMÃO, José E. (Orgs). Educação de jovens e adultos: teoria, prática e proposta. 11.ed. São Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire, 2010. (Guia da escola cidadã; v.5) 

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