segunda-feira, 30 de outubro de 2017

MEIO CAMINHO PARA UM SONHO

Durante a aula do dia 24/10/17 uma colega mencionou que nossa aprovação no vestibular da UFRGS estava de aniversário, ou seja, dois anos e meio havia se passado do tão desejado sonho de cursar uma faculdade, ainda mais, na renomada Universidade Federal cujo o histórico de formação é excepcional. Ouvi e comecei a refletir durante alguns dias sobre o fato narrado, os primeiros semestres com acesso às diversas tecnologias e angustia de percorrer novos caminhos. Tudo foi relembrado e sentimentalizado após a colocação da colega. O egresso foi um marco de recomeço na minha   vida, digo em todos os sentidos, possibilitando reativar uma vocação adormecida  e com mais sabor, pois retornei pela segunda vez a essa tal respeitada instituição. Agora, acadêmica mais madura, serena e desejando novos conhecimentos sobre aquilo que de fato desejei desde o tempo do antigo ginásio.

O retorno aos estudos foi penoso na medida em que temos que reorganizar toda nossa estrutura familiar, trabalho e social, além da angustia de partirmos em busca do novo. Difícil, choroso e em certos momentos assustador devido a demanda de leituras e pesquisas e produções de textos. Valeu!!! Cá estou cursando o quinto semestre, bem  dizer alcancei a metade do meu objetivo: Que orgulho!!!

Ao escrever esse texto vou revivendo cada semestre findado, nos traz a sensação do dever cumprido - sensação indescritível,  na medida que manuseio o Moodle, Workshop a insegurança foi perdendo força e a segurança em expor as ideias se solidificando. No inicio, ao realizar as atividades pensava: Será que tá certo? Entendi direito? Se escrever de tal forma corro o risco de ser mal interpretada? e por ai meus fantasmas vagavam. O incômodo findou quando recebi uma mensagem da professora Leda me parabenizando por ir em buscas de novas leituras e suscitando novos questionamentos  oportunos aos temas propostos - era o que faltava para me sentir segura e  começar a ensaiar os primeiros passos rumo a construção do saber, como um bebê que começa a dar os primeiros passos segurando a mão de alguém e quando se sente seguro tenta fazer sua caminhada só,  me vi exatamente nesse exemplo. Minha identidade estudantil estava sendo criada, na medida que passei a buscar mais leituras para complementar os textos enviados no Moodle comparando as informações, questionar ou fortalecer algo que, por intuição, já desconfiava. Com o tempo fui percebendo que também não era uma tábua rasa, melhor, nenhum aluno é,  e na medida que o curso  avançava fui me entendendo como aluna, meus defeitos, tempo de maturação, disciplinas e curiosidades para despertar o interesse pelo saber, e enquanto professora, veio a lapidação de uma pedra, e esse polimento vem me tornando uma professora consciente e sensível frente a realidade dos meus alunos. Aprendi que o conhecimento deve ser construído em conjunto com os educandos, ter finalidade, objetivos e galgado no interesse dos alunos e na sua bagagem de vida pessoal. Para ocorrer a construção do saber, primeiramente, devemos despertar a curiosidade em nossos alunos, não há educação sem encanto e afeto, logo o amor deve ser pulverizado no ambiente escolar e a reflexão deve fazer parte do oficio  do educador.

Ainda colho bons frutos de atividades trabalhadas em sala de aula dos semestres anteriores aplicadas aos meus alunos, como o Projeto Bicho Cabeludo ( desenvolvido no semestre passado em que as crianças continuam observando por conta própria na pracinha da escola o ciclo da lagarta); o aluno Bento (já mencionado nesse blog com a experiência da rede); a minha primeira participação no Salão Cientifico de Educação Infantil de Torres/RS;elaboração de  atividades musicais com instrumentos de percussão. Sem dúvida, o apoio de nossos professores para nós alunos não desistirmos é de grande valia, e essa mesma consciência deveria ocorrer em nossas escolas, repeitando o limite e a individualidade de cada aluno, ao mesmo tempo, oportunizando o conhecimento, ao meu ver,  são afirmações fundamentais para o sucesso escolar. Inciando na Educação Infantil e perpetuando por todos os níveis de escolaridade.

terça-feira, 17 de outubro de 2017

O ALUNO SUA REDE DE DORMIR: ORIGEM E BENEFÍCIOS


Na contramão dos preconceitos e ávida para descobrir novos hábitos culturais que pudesse implementar aos meus alunos, levei uma rede para escola com a finalidade de armar para  as crianças brincarem no cotidiano escolar. A primeira vez foi montada no espaço de vida útil, lugar que imita uma mini cozinha onde os alunos brincam de casinha. o intuito inicial era meramente descontrai-los, uma especie de novidade para aquele ambiente. Todos curtiram, embalaram uns aos outros e sucessivamente com trocas entre si.

 Dado momento eu e a professora Dircilene Verdum decidimos colocar nosso aluno autista para observar qual seria sua reação deitado e olhando o mundo de baixo para cima,  pensamos de inicio: será que  vai aceitar ou vai chorar? Para nossa surpresa sua receptividade foi aquém de nosso esperado, de imediato abriu largo sorriso e seu semblante era de puro prazer e euforia. Observava o céu, os movimentos dos seus dedos seguido de risos como estivesse experimentando algo totalmente novo. Nós professores ficamos em êxtase com essa nova descoberta de satisfação de nosso aluno. Outrora, na saída, fomos contempladas com choro e expressões de insatisfação dele para conosco, que maravilha, B reagiu a favor de sua vontade, isso era o ápice de nossa descoberta. Assim seguiram os dias dele na rede, sempre esboçando plenitude e prazer ao se deparar com aquela rede estendida à sua frente. Tanto foi seu contentamento que o pai, ao levá-lo de manhã cedo para escola, percebeu sua manifestação com os braços estendidos em direção a rede estendida, era a comunicação de nosso aluno querendo por ali ficar. A descoberta do B pela rede  é a noticia mais admirada de nossa semana escolar, graças a nossa percepção e sensibilidade para com esse aluno, nos fazendo acreditar em nossas intuições e observar a necessidade e individualidade de nossas crianças.

Ambos tivemos ganhos, o aluno, em descobertas e nós em nos aprofundar pelos benefícios de experimentar o novo, além de acusar a curiosidade em fazer um estudo sobre a origem das redes e seus benefícios, bem como estudar os povos que a utilizam em seu cotidiano.De fato, ela acalma, traz sensação de leveza e pode ser usada como terapêutica, haja  visto o exemplo de B ao buscar refúgio, conforto e prazer ao deitar-se numa rede.

fonte de pesquisa:

 https://www.youtube.com/watch?v=ccJj46b9rog, acessado em 17/10/2017

O MENINO NITO - MENINO PODE CHORAR?

  



Sinopse:   historia de um menino cujo o pai o proíbe de chorar sob a alegação que homem não chora. Nito se torna uma criança triste e adoece de tanto engolir o choro. O menino é levado ao médico e este o aconselha a “desachorar”.


Descrição da atividade: os alunos do Pré I A foram convidados a sentarem em roda para discutirmos uma pergunta lançada para eles: menino pode chorar?
Após assistir o filme e ouvir diversas repostas registramos algumas falas onde a maioria afirmava negativamente.

Menino não chora por que ele é macho!
Não pode chorar, só quando apanha!
Se eu não chorar eu ganho carrinho!
Eu choro. O menino parou de chorar porque ele era forte!


 Retomamos a discussão com o intuito de analisar se houve troca de opiniões entre os alunos, após serem registradas, convidei meninas e meninos para se vestir e brincar do sexo oposto. As meninas demonstraram alegria e espanto, enquanto dois meninos apenas aceitaram a brincadeira. O primeiro garoto se vestiu, maquiou e brincou muito a  vontade, o segundo apenas se limitou em vestir-se de menina, mas recusou em fazer pinturas no rosto.

O Objetivo da atividade  era  fazer uma abordagem positiva e discreta ao tema lançado para a  turma: Menino pode chorar? Duas crianças foram destaques na abordagem suscitada. a primeira filho de pais casados e a cultura machista fortemente presente na vida  familiar. A mãe, de acordo com relatos do filho em sala de aula, é retratada em casa como medrosa, chorona e muito brava. Ele e o pai  fazem brincadeiras de sustos e preconceituosas colocando a progenitora na figura de fragilidade. Essa mesma criança a qual iremos denominar de “A” foi muito enfática que homem não chora, não gosta de meninos de brincos e tivesse um amigo de cabelos cumpridos não brincaria com o mesmo, pois segundo suas palavras, tudo isso é coisa de menina. Mesmo após varias colocações de outros colegas , o menino “A” continuou com seu posicionamento.

O segundo o qual será denominado “K” apresentou um comportamento inverso de “A”, aquele totalmente a vontade na atividade mencionando que ser menina era também muito legal. Essa criança é  criado apenas com a figura materna, onde a mãe é a única referência e tida como seu apoio e escudo.


Por meio de uma escuta sensível busquei compreender a historia de vida dessas crianças e entender porque para um os valores e preconceitos são tão arraigados, ao passo que para o segundo a questão é vista como  normal e sem levantar questionamentos preconceituosos. A criança por natureza sente e pensa o mundo de um jeito próprio, são os adultos que interferem nesse processo ofertando a elas, crianças, características, falas e exemplos que desvalorizam o próximo socialmente. Os preconceitos muitas vezes  é oriundo da cultura  familiar que possui valores preconcebidos. Aponto no sentido que é possível mudar essa realidade por duas vertentes: a primeira diz respeito ao processo de aprendizagem que ocorre por toda a vida, sempre se aprende sobre varias coisas, espaços e ambientes oportunizando a todos reavaliar seus conceitos. A segunda solução encontra-se no âmbito escolar, dependendo como é tratada a questão da diversidade, a escola pode auxiliar as crianças a valorizar sua cultura, seu corpo, seu jeito de ser. Contudo, a prerrogativa no âmbito escolar ainda encontra-se truncada, na medida que muitas escolas não possui a temática das relações étnicos raciais nos seus projetos pedagógicos, e, como citado nas  Orientações e Ações para a Educação das Relações Étnico Raciais. 

"... o tema trabalhado permanentemente e nessa perspectiva é possível criar condições para que não mais ocorram intervenções meramente pontuais, para resolver  problemas  que surgem no dia a dia relacionados ao racismo. Aos poucos, o respeito à diversidade será um principio  das instituições e de todas as pessoas que nela atuam." 

fontes:

Rosa, Sonia. O MENINO NITO.
 Orientações e Ações para a Educação das Relações Étnico Raciais, página 168. 


domingo, 8 de outubro de 2017

EXPERIÊNCIAS


Semestre anterior falamos sobre o professor reflexivo e sua importância de auto  analisasse  enquanto educadores. Por coincidência tive a oportunidade de aprofundar a leitura com outro texto  do professor e doutor em pedagogia pela Universidade de Barcelona, Espanha BONDÍA Jorge Larrosa , no qual menciona o valor de sermos reflexivos, bem  como do valor das experiências e o tempo para podemos acomodá-las. Conforme afirma Bondía "a palavra experiência que vem do latim experiri, provar (experimentar)", logo ela é um encontro  ou uma relação com que se experimenta . Ao fazermos experiências, seja ela enquanto professor, observador, cidadão ou mera curiosidade significa que algo nos acontecerá, nos apoderá e indubitavelmente nos tombará e nos transformará. E essa capacidade de formação ou de transformação, que é outro componente  da experiência,  nos forma e nos transforma, somente  sujeito da experiência está aberto à sua própria transformação.

Contudo tais benefícios não vem acompanhado de êxito apenas, faz-se necessário apontar outros questionamentos oriundos da velocidade da atualidade. Em primeiro lugar pelo excesso de informação, a segunda não é experiência, mais, a informação não deixa lugar para a experiência, ao contrário, uma antiexperiência. O papel primordial dela é cancelar nossas possibilidades de experimentar. Quer dizer, um sujeito fabricado e manipulado sob a égide da informação e da opinião, será cidadão incapaz de experienciar. E, esta é  cada vez mais por excesso de opinião, algo imperativo, pois passamos a  vida opinando sobre qualquer coisa e sobre algo que nos sentimos informados, e se alguém não tem opinião olhamos como falho e algo lhe faltando.

Como percalços das nossas experiências cito os excessos de informações, as enxurradas de opiniões e os experimentos cada vez mais raros, por falta de tempo, isso mesmo,  tudo se passa demasiadamente depressa, fugaz e substituído por outro estímulo ou por outra excitação igualmente fugaz e efêmera. Somos consumidores, assim como nossos alunos, vorazes e insaciáveis de noticias, novidades. Tudo nos agita, excita, choca, mas nada nos acontece. Na educação a falta de silêncio, memória e tempo para acomodar e deliciar as experiências são inimigas mortais do tema aqui proposto.

Concluo que o sujeito da experiência se define não por sua atividade, mas por sua passividade, receptividade, disponibilidade, e mais importante ao meu ver, sua abertura como  território de passagem sensível ao acontecimento e que de algum modo o afetará e produzirá alguns vestígios ou efeitos.

fonte: BONDÍA, Jorge Larrosa. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Tradução de João Wanderley Geraldi, ,Universidade Estadual de Campinas, Departamento de Linguística,  Revista Brasileira de Educação, Jan/Fev/Mar/Abr 2002, pág. 20-28, n°. 19