PORQUE AFETIVIDADE NA EDUCAÇÃO
DE JOVENS E ADULTOS?
A
reflexão que se almeja propor neste texto, remete a uma questão que inquieta quando
se pensa em educação de jovens e adultos, ainda mais se pensarmos que a
aprendizagem deste grupo de educandos, é mais do que apenas ensinar ou
transferir conhecimentos, mas também é uma construção de autonomia e mudança. O
que se propõe aqui é conjecturar sobre a afetividade no ensino, sabendo-se que
a educação de jovens e adultos passou a ser considerado importante no Brasil,
com a finalidade de capacitar os jovens e adultos para o trabalho efetivamente,
mas que também, consta no cenário educacional contemporâneo como uma
possibilidade e alternativa para aquelas pessoas que por motivos distintos não
puderam frequentar a escola regular.
A
modalidade de ensino de que falamos, o EJA, consolidou-se a partir dos
preceitos da LDB 9394/96, da Resolução CNE/CEB Nº 01/2000 e do parecer CNE/CEB
Nº 11/2000, como sendo uma oportunidade educativa, ainda que diferenciada pelas
particularidades dos educandos, que geralmente, são pessoas que devido as
condições financeiras, dedicaram-se ao trabalho desde cedo, empregados e
desempregados, moradores urbanos de periferias, favelas, vilas e zonas rurais. Embora,
não pareçam, constituem-se como agentes sociais e culturais, que acabam sendo marginalizados
na sociedade, e de certa forma, por não se enquadrarem socioeconomicamente e
educacionalmente. São pessoas que depois de uma longa rotina de trabalho, se
dirigem à escola desafiando o desânimo, cansaço, sono, e a evasão, para se
sobressair à persistência em aprender e avançar nas etapas acadêmicas. Para
tanto, o que poderia ser mais eficaz para a aprendizagem destes educandos do
que a relação professor/educando, pois acredita-se que em muitos casos, a
afetividade atribuída a prática educativa, surte como uma tática proveitosa que
os conecta em sala de aula. E contemplando Paulo Freire, que vislumbrava uma educação
democrática e libertadora, que partisse da realidade, da vivência dos
educandos, cabe ao professor promover estas mediações que envolvam o
conhecimento prévio que estas pessoas carregam na bagagem de vida e
transformá-los em agentes produtivos de conhecimento e cultura.
Nesse
contexto, a educação de jovens e adultos, necessita de professores que envolvam
os educandos para a prática das atividades educativas planejadas com entusiasmo,
vontade, e os mostrem que são capazes de aprender. Por isso, as discussões e
ideias de Paulo Freire, Moacyr Gaddoti, dentre outros autores que abordam o
tema sobre a educação de jovens e adultos, são tão relevantes quando se trata
da importância da afetividade na relação entre professor/educando, suscitando
muitas indagações sobre uma prática pedagógica voltada para jovens e adultos
que esteja alicerçada na afetividade e que demonstre resultados efetivos, ou
seja, que o professor seja igualmente capaz, de encontrar meios de motivar os
educandos para a sua pratica educativa, por meio de diálogos, momentos
reflexivos e dinâmicos que visem uma interação mais intimista e um olhar do
professor mais voltado para as reais necessidades do educando.
Nas
palavras de Paulo Freire, “[...] ninguém é analfabeto porque quer, mas como
consequência das condições de onde vive” (FREIRE, 1986). Entretanto, independente
das causas que precedem a evasão destes educandos da escola, a modalidade de
educação de jovens e adultos, tenta reestabelecer os direitos e a busca pela superação
das injustiças sociais, através da reconquista da identidade cultural, elevação
da autoestima e, sobretudo, tornando-os sujeitos das próprias aprendizagens.
Por isso defende-se e instiga-se que o professor seja, ou atue como mediador,
ressaltando algumas das atribuições, tais como: ouvir, entender, incentivar a
não desistir dos estudos, orientar, atribuir-lhes valor dentro do processo de
aprendizagem, dentre outras. Mas como tudo tem um outro lado, há de se
compreender que para se obter o que descrevemos anteriormente, teremos que
contar com requisitos e atribuições de um professor que seja aberto para
conversar, que transmita confiança e que, especialmente, seja reflexivo e
incentive os educandos a se sentirem parte do processo, desenvolvendo, de tal
forma, as atividades com alegria, bom humor e segurança.
Numa
perspectiva prática, o educando adulto já traz consigo ideais conceituados e
inúmeras experiências de vida, diferente da condição de criança, porém, ainda necessita
e requer muita atenção e carinho, pois esta relação acolhedora produz um
sentimento de pertencimento ao que se propõe, e serve de incentivo para a
permanência destes educandos na escola. Conforme Mosquera (1976) revela que, “a
união entre a vida emocional e a intelectiva é algo sumamente importante e
chamaríamos a atenção de que o ser humano age como um todo. Hoje temos maior
consistência desta afirmativa, porque somos conscientes dessa unidade e
complexidade, que conformam o ser humano”.
De
tal forma que se o professor não objetivar estabelecer uma relação afetiva com
os educandos, pode até conseguir transmitir conteúdos/informações, no entanto, será
sempre incompleto no quesito: eficácia do ensino, pois este não envolvimento com
o educando inviabiliza a concretização da aprendizagem, corroborando para a
importância da afetividade como instrumento inerente a prática pedagógica. CODO
& GAZZOTTI (1999) nos diz que: “todo trabalho envolve algum investimento
afetivo por parte do trabalhador, quer seja na relação estabelecida com outros,
quer mesmo na relação estabelecida com o produto do trabalho”. No entanto, em
se tratando do papel do professor, a relação afetiva poder-se-ia se dizer que é
algo obrigatório para o próprio exercício do trabalho, a fim de atingir os
objetivos. Ainda que reconheçamos as funções atribuídas ao professor, que são
geralmente de caráter objetivo, tendo prazos para cumprir, estrutura curricular
a seguir, tendo que estruturar seu trabalho independente do investimento
afetivo, conclui-se que, no momento que se propõe a ensinar e o educando a
aprender ocorrerá, de certa forma, algum tipo de estabelecimento de laços
afetivos, propiciando então, uma troca entre os dois, que contribua na
demonstração de atenção e interesse do educando para o conhecimento
proposto.
Contudo,
por mais que pareça idealismo crer na possibilidade de propostas pedagógicas alicerçadas
na afetividade, que levem em conta as características e necessidades
individuais, interesses e condições de vida e trabalho, faz-se necessário
continuar acreditando e buscando formas de adequar a escola e o trabalho do
professor às necessidades daqueles que recorrem ao ensino de jovens e adultos
para crescerem, evoluírem e se reencontrar como agente ativos de aprendizagem.
REFERÊNCIAS
CODO, Wanderley (Coordenador). Educação: carinho e trabalho. Petrópolis, RJ: 3ª Edição. Ed. Vozes. Brasília: Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação: Universidade de Brasília. Laboratório de Psicologia do Trabalho, 1999.
DONADON,
Daniela Gobbo; LEITE, Sergio Antonio da Silva. Educação de Jovens e Adultos: as
dimensões afetivas na mediação pedagógica. Disponível em:
http://www.alb.com.br/anais17/txtcompletos/sem02/COLE_984.pdf. Acesso em 19 ago
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FREIRE,
Paulo. 1986. Carta a uma alfabetizadora - Fascículo - Vereda - São Paulo.
___________. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa.
16. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002 ___________. Política e Educação:
ensaios. 5 ed. São Paulo: Cortez, 2001 (Coleção Questões de nossa época; v. 23)
GADOTTI, Moacir ; ROMÃO, José E. (Orgs). Educação de jovens e adultos: teoria, prática
e proposta. 11.ed. São Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire, 2010. (Guia da
escola cidadã; v.5)