quinta-feira, 1 de agosto de 2019

SAULO

 Retomando a leitura do textohttps://portfoliolisianenegreiros.blogspot.com/2017/11/inclusao-escolar-e-autismo.html   nos possibilitou uma nova  reflexão sobre o tema, do qual afirmo que é possível mudarmos nosso viés de tudo o que nos foi ensinado calcados em tempos remotos, desde que, tenhamos motivação para ir em busca do saber com a finalidade de derrubar tabus de nós educadores sem nenhuma base cientifica, apenas pela dedução do preconceito.Assim trago um relato real de uma experiência  com um aluno especial, onde as dificuldades não foram obstáculos para desenvolver um bom trabalho entre nós. 

A história  que trago não possui um padrão técnico, pois antes mesmo de começar o relato penso que se faz necessário falar sobre minha experiência com alunos especiais, ou seja, tenho 5 anos que trabalho na educação infantil e nesse período tive oportunidade de acompanhar dois alunos, um com síndrome de Down e o segundo autista. Irei me ater ao segundo caso por se tratar de um grau de autismo elevado, exigindo muita sensibilidade, observação e reflexão perante esse aluno.

 Saulo , chegou em nossa escola com 3 anos de idade e com comportamento de um bebê de 1 ano. Passava os dias dentro de um carrinho de nenê por toda parte da escola. Quando não estava chorando, estava dormindo. Para controlar sua fúria, a família trazia na mochila de Saulo guloseimas das mais variadas espécies, assim todos tinham a certeza que o aluno iria passar o dia na escola sem criar “problemas”. Por onde passava, via Saulo dentro daquele carrinho e isolado da turma, entre outras cenas, essa me incomodava muito, pois me questionava em silencio se era inclusão ou um isolamento social velado?

Com o tempo me tornei professora auxiliar de Saulo, assim pudemos  observar, refletir sobre suas crises severas e choro quando contrariado. Com cautela descobrir que a mãe o medicava de acordo com sua conveniência, além de domesticá-lo com doces. A essa altura dos acontecimentos Saulo não podia mais entrar no refeitório que avançava em que estava comendo ou tentava invadir a cozinha a qualquer preço. A comida era seu refúgio. Como não tenho experiência na área de AAE e sem respaldo de profissionais capacitados fui agindo conforme minha intuição e o que observava em seu comportamento. O primeiro passo foi identificar em Saulo o que era uma crise de uma birra. Partindo desse pressuposto fui criando estratégias para evitar o que lhe desestabilizava. De inicio, como a medicação dele não era ministrada corretamente pela família, parte dessa irritabilidade poderia ser sono ou remédios que alteravam seu comportamento, diante do primeiro ponto levantado, disponibilizei um colchonete dentro da sala de aula, num canto mais reservado da turma, para poder ser acomodar no momento que julgasse necessário. Passado duas semanas começamos notar uma mudança no comportamento de  Saulo, desde a sua chegada na sala de aula. Tinha dias que ia junto para turma, outros ia direto para seu canto. Ficava certo tempo, vinha para o grupo e retornava para seu colchão. Percebi que essa liberdade o deixava sereno e seguro para se afastar do grupo quando se sentisse incomodado. O segundo momento com Saulo foi trabalhar o  acesso ao refeitório, a geladeira e a cozinha da escola. Começamos a ser mais firmes em nossas palavras, e demonstrar que tínhamos o horário certo para nos alimentar, em conjunto, tivemos a preocupação de leva-lo ao refeitório em momentos mais silenciosos para que pudesse apreciar o alimento de forma calma e sem os sons que tanto o irritava.

Chegamos ao terceiro momento e já no final do ano letivo com Saulo indo, sorridente, para sua rede instalada no pátio da escola. Lá ele ficava horas contemplando as nuvens, o céu, o sol... ou algo mais que ele demonstrava em seu semblante. Quando desejava ir até o grupo levantava da rede e ia ao encontro dos amigos, andava entre eles, pegava algum objeto contemplava e retornava a sua rede. Ao final, quando algo não se sentia bem, ia por conta própria para sua rede ou nos sinalizava que queria retornar para a sala de aula.

Esse é um relato de como a reflexão e a sensibilidade pode nos ofertar recursos, mesmo sem apoio de um profissional capacitado, perante um aluno especial. A falta de recurso não é uma excludente para negar a socialização dos mesmos. A vida de Saulo progrediu muito depois que teve a oportunidade de conviver  em grupo e ter direitos e limites respeitados.







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