segunda-feira, 17 de julho de 2017

AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

PORQUE O AVALIAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL PARECE UMA TAREFA TÃO DIFÍCIL?
“ Professor nenhum é dono de sua prática se não tem em mãos, a reflexão sobre a mesma. Não existe ato de reflexão, que não nos leve a constatações, dúvidas e descobertas e, portanto, que não nos leve a transformar algo em nós, nos outros e no mundo”. Madalena Freire
A utilização dos projetos de aprendizagens na educação infantil, com uma metodologia voltada para os questionamentos e desejos de investigações que surgem a partir da voz das crianças pequenas, me fizeram refletir sobre o porquê de ser tão difícil o momento da avaliação.
Compreendi que a avaliação na educação infantil, muitas vezes não se trata de medir os conhecimentos das crianças, tampouco, descrever de forma subjetiva um texto que dê conta do que a criança consegue ou não fazer, mas sim, pode ser o início de novas descobertas, de encontro com as necessidades dos educandos, e principalmente do educador poder se autoconhecer em sua prática e verificar se tudo o que está planejando e executando está de acordo com o que a criança precisa conhecer e perceber do mundo a sua volta. É preciso que a avaliação se inicie, sim, pela prática do educador, e então, percebo que é neste momento que encontramos as primeiras pedras no caminho.
É verdade que a avaliação, propriamente dita, baseia-se no acompanhamento, observação e registros que se deve fazer da criança, sobre seu desenvolvimento ao longo dos períodos estipulados para o fechamento avaliativo, entretanto, há de se pensar que também deve ser, um momento reflexivo e análise da prática educativa, a fim de perceber
o que pretendíamos, o que obtivemos de fato, e o que precisamos buscar efetivamente, para atingir os objetivos.
Se por um lado, a avaliação pode nos fazer conhecer melhor a nossa criança, suas habilidades e suas deficiências, por outro, pode ser o caminho para a percepção da prática educativa para apontar modos de aprimorá-la. É evidente que cabe ao educador, um olhar cauteloso e reflexivo sobre o crescimento de cada criança, a percebendo em sua individualidade, com suas limitações e suas habilidades, enfatizando suas qualidades e o quanto tem se desenvolvido no passar dos dias. Conforme, Hilda Micarello, diz que:
Avaliar é o exercício de um olhar sensível e cuidadoso ao outro, dito de outro modo, é a parte do exercício de “amorosidade” que o ato educativo encerra e do qual nos fala o mestre Paulo Freire (MICARELLO, 2010, p. 2, grifos do autor).
Por isso a frase de Madalena Freire, citada anteriormente, nos revela que a avaliação de uma criança, deve perpassar pela a avaliação da prática do educador, para que ao analisar os ganhos e as perdas, possa se estabelecer parâmetros para estimar o envolvimento da criança com o seu exercício educativo e assim, traçar uma trajetória de suas descobertas e aprendizados, seus crescimentos e suas dificuldades, situando uma linha evolutiva da criança, apontando suas ações no passado e como tem se expressado no momento atual.
Conquanto seja difícil elaborar uma avaliação que seja realmente assertiva da criança, as contribuições dos registros e anotações de falas, expressões e ações do cotidiano da criança em seu espaço no ambiente escolar, podem ser a chave e o caminho mais seguro, para uma avaliação mais concisa e de acordo com o ideário de uma avaliação efetiva na educação infantil, por refletirem acontecimentos conexos ao amadurecer de cada um.
No Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (Brasil, 1998), em seu livro de introdução, o item “Observação, registro e avaliação formativa”, em conformidade com a legislação vigente, nos fala que a avaliação é: “[...] um conjunto de ações que auxiliam o professor a refletir sobre as condições de aprendizagens oferecidas e ajustar a sua prática às necessidades colocadas pela criança”. Ou seja, não se trata de questão classificatória, punitiva ou ainda promocional, que inevitavelmente se remete à avaliação. E o documento acrescenta que: “É um elemento indissociável do processo educativo que possibilita ao professor definir critérios para planejar as atividades e criar situações que gerem avanços na aprendizagem das crianças. Tem como função acompanhar, orientar, regular e redirecionar esse processo como um todo”. (Brasil, 1998, v. 1, p.59)
Definindo o que se espera ser a avaliação na educação infantil, observa-se que a parte mais dificultosa desta ação é para muitos, a auto avaliação do próprio educador sobre sua prática, e como isso se relaciona com o desenvolvimento das crianças, de maneira coletiva e mesmo individual, porque o olhar o outro, o criticar o outro, ver o que se tem que melhorar no outro, são severamente mais fáceis de serem apontados, mas o olhar-se no espelho da verdade, é que é tarefa difícil. Ainda que, neste texto busque refletir sobre as dificuldades de se fazer a avaliação na educação infantil, ainda temos outros questionamentos, que remetem a como apresentar tais explanações, como o portfólio, parecer descritivo, conceitos, enfim, mas isso são inquietações para uma nova reflexão.



Referências:

MICARELLO, H. Avaliação e transições na educação infantil. Portal MEC: 2010. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?Itemid=&gid=6671&option=com_docman&task=doc_download. Acesso em: 01 out. 2013.
BRASIL. Referencial curricular nacional para a educação infantil. Brasília: SEF, 1998. 3.v

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